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100% do território cearense corre risco de desertificação, alerta Funceme


Ceará sofre com seca prologanda, o que agrava a situação da desertificação (Foto: José dos Santos/Arquivo pessoal)

Com 100% do território suscetível à desertificação, o Ceará é o único estado da federação que pode se tornar completamente infértil se não houver um trabalho de recuperação das áreas em situação mais crítica.

A desertificação é definida pela Convenção das Nações Unidas de Combate à Desertificação como sendo a degradação de terras, nas zonas áridas, semiáridas e subúmidas secas. O fenômeno é resultante de diversos fatores, entre eles as variações climáticas e atividades humanas.

Mapeamento atualizado do território cearense realizado em 2016 constatou que 17.042 km², equivalentes a 11,45% do estado, estão fortemente degradados e suscetíveis à desertificação, segundo a Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme). Para Margareth Carvalho, gerente do Núcleo de Recursos e Meio Ambiente da Funceme, a recuperação dessas áreas é, em tese, possível. "Para isso, precisamos de políticas públicas que tratem de manejo e conservação do solo", acredita.

Os cinco anos de seca contribuíram, fortemente, para o agravamento da situação. “Em 2013, contabilizamos mais de 30 mil açudes pequenos, de até meio hectare. Três anos depois, em 2016, o número desses açudes caiu para menos de 18 mil”, relata Margareth Carvalho. Segundo ela, o reservatório cria um ambiente mais úmido que contém o solo, diminuindo o processo de erosão e permitindo agricultura de subsistência.

Outro fator que agrava a qualidade do solo é a queimada, quando o agricultor põe fogo na mata para realizar plantio ou fazer pastagem. O processo, além de destruir a vegetação, retira a camada orgânica do solo, deixando-o mais pobre em nutrientes.

No período de ventos fortes no Ceará, de julho a novembro, o fogo pode ser alastrar facilmente destruindo grandes áreas da caatinga. Por essa razão, a Superintendência Estadual do Meio Ambiente (Semace) suspendeu, até o fim de dezembro, as queimadas controladas no Ceará a fim de proteger a cobertura florestal da caatinga.

Em laranja estão as áreas fortemente degradas e em processo de desertificação. As demais áreas do estado são suscetíveis à desertificação. (Foto: Funceme/Divulgação)

Segundo o Programa de Ação Estadual de Combate à Desertificação (PAE), foram classificadas como áreas suscetíveis à desertificação, as que possuem degradação da cobertura vegetal, assoreamento dos rios, pastoreio excessivo, perda da biodiversidade, perda da capacidade produtiva do solo, baixa relação entre capacidade produtiva dos recursos naturais e a sua capacidade de recuperação. As áreas apontadas como mais suscetíveis à desertificação no Ceará são Sertões dos Inhamuns, Sertões de Irauçuba, Centro Norte e os Sertões do Médio Jaguaribe.

Em 2009, estudo do Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (Ipece), identifica 15 municípios do Ceará com maior propensão à desertificação: Canindé, Morada Nova, Catarina, São João do Jaguaribe, Ibicuitinga, Itatira, Umari, Deputado Irapuan Pinheiro, Acopiara, Madalena, Quixadá, Ocara, Palhano, Ibaretama e Paramoti.


Brasil

Prática de queimadas, comum no interior do Ceará, agrava ainda mais o problema da desertificação (Foto: Ellyo Teixeira / G1)

No Brasil as Áreas Susceptíveis à Desertificação (ASD) possuem uma extensão de 1.340.863 km² e contam com uma população de 34 milhões de pessoas, onde 50% delas estão abaixo da linha da pobreza.

São, ao todo, 1.494 municípios em 11 estados da Federação. Mapeamento realizado pela Funceme identificou que 70,5 mil km² dessa área já estão na categoria de Fortemente Degradado, onde já está comprometida a produção agrícola, e a produtividade dos recursos naturais é muito baixa, com profundo reflexo sobre a capacidade de suporte para a vida humana e animal.


Causas

Voçorocas fazem parte da paisagem em Gilbués (Foto: Pedro Santiago/G1)

Vários fatores contribuem para a desertificação e, segundo especialistas, o processo ocorre, principalmente em áreas com grande índice de pobreza. Os fatores apontam para uma correlação negativa entre os índices de propensão à desertificação e o Índice de Desenvolvimento Municipal (IDM) - e seus subíndices.


Entre as principais causas para a desertificação de uma área estão:

  • Uso intensivo da terra até a exaustão, sem preocupar-se em repor os elementos assimilados pelas plantas: não há um tempo do pousio adequado;

  • Sobrepastoreio: uso da terra com uma população animal acima de sua capacidade de suporte o que provoca ainda, a compactação do solo;

  • Desmatamento: deixando o solo totalmente desprotegido e favorecendo a erosão;

  • Queimadas que destroem a microfauna e as matérias orgânicas do solo;

  • Extrativismo de madeira para a produção de lenha feito de modo predatório;

  • Manejo e utilização com lavouras com a utilização de implementos agrícolas inadequados e plantação realizadas morro abaixo;

  • Irrigação: provocando a salinização e alcalinização do solo, por capilaridade, agravado pelos balanços hídricos negativos na maior parte do ano;

  • Mineração, por se tratar de atividade predatória, devasta todo o ambiente em volta;

  • Densidade populacional: cerca de 28 hab./km² (uma das mais elevadas, tomando-se por base outras regiões semiáridas).


Consequências

Entre os efeitos da desertificação sobre a fertilidade do solo, estão a baixa qualidade e disponibilidade dos recursos hídricos, que compromete a produtividade das culturas; a quantidade de terra arável; a produção de alimentos para subsistência e comercialização; agravamento de problemas sociais como desemprego, baixo nível de renda e êxodo rural, ocasionando a condição de pobreza.


Também são consequências da desertificação:

  • Queda na produção, determinada pela perda da matéria orgânica e nutrientes da camada superficial do solo e diminuição da água útil;

  • Perda da biodiversidade, uma vez que só plantas e animais mais rústicos e resistentes sobrevivem em condições tão desfavoráveis;

  • Agravamento dos problemas sociais pela perda da renda da aquicultura;

  • Migração, resultando em um maior número de favelas, aliada à incapacidade das cidades de prestar serviços básicos a esta população;

  • Perda de solos por erosão, que destrói as estruturas (areias, argilas, óxidos e húmus) que compõem o solo, contribuindo para o processo de desertificação;

  • Assoreamento: fenômeno já bem observável em nossos reservatórios, intensificado pela remoção da vegetação das margens dos reservatórios;

  • Aumento das secas edáficas. Como o solo é um sistema poroso que armazena água, na medida em que se diminui sua espessura (devido a erosão) ele armazena menos água.

Fonte: G1






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